Os outros personagens em Um conto das maldições do Cervo Invernal poderiam ser considerados quase todos como secundários, visto que o foco do livro seria a jornada de Josh e de como nunca nos livramos da infância e dos seus efeitos. Mas nem de longe eles estão ali apenas para impulsionar este, ou aquele assunto. Ao contrário, possuem uma dinâmica própria, com questões tão intricadas e pertinentes ao enredo, que em determinados momentos, pensamos estar diante de outros protagonistas, e que Josh é o coadjuvante. Só que a forma com que eles estão relacionados à trajetória de Josh em sua busca por Friedrich, nos redireciona sempre ao eixo central da história, que é acompanhar um garoto que não muda em sua busca pelo que nunca mais será o mesmo. Aqui nestes posts, veremos um pouco sobre estes personagens, seus arcos e um pouco do que eles tratam.
Os outros personagens em Um conto das maldições do Cervo Invernal poderiam ser considerados quase todos como secundários, visto que o foco do livro seria a jornada de Josh e de como nunca nos livramos da infância e dos seus efeitos. Mas nem de longe eles estão ali apenas para impulsionar este, ou aquele assunto. Ao contrário, possuem uma dinâmica própria, com questões tão intricadas e pertinentes ao enredo, que em determinados momentos, pensamos estar diante de outros protagonistas, e que Josh é o coadjuvante. Só que a forma com que eles estão relacionados à trajetória de Josh em sua busca por Friedrich, nos redireciona sempre ao eixo central da história, que é acompanhar um garoto que não muda em sua busca pelo que nunca mais será o mesmo. Aqui nestes posts, veremos um pouco sobre estes personagens, seus arcos e um pouco do que eles tratam.
Numa análise rasa, Josh e Friedrich poderiam ser considerados como um personagem único. O qual a partir do segundo capítulo, se secciona em dois outros de acordo com a escolha que cada um fez: Josh representando uma infância imutável, e Friedrich o esquecimento absoluto dela. Com ambos pagando o preço por não amadurecerem, ou por terem amadurecido demais. Mas nem de longe é simples assim. Josh e Friedrich são desde sempre opostos. Mesmo quando ainda são crianças, na idílica e pobre Aldeia de Retalhos, eles possuem visões bem diferentes do que é ser uma criança: Friedrich deseja crescer rápido e livrar-se da subjugação ao pai. Enquanto que a Josh, nada interessa mais do que brincar e aproveitar o presente. No primeiro diálogo deles sobre o tronco caído na floresta soturna, a diferença entre essas duas perspectivas fica bem clara, o que demonstra que os dois não são um personagem cindido a partir do capítulo dois. Pois tudo já estava ali, com Josh e sua ingenuidade, às vezes podendo ser ardiloso e cruel como qualquer criança. E Friedrich, que talvez só fosse bondoso porque era fraco.
Numa análise rasa, Josh e Friedrich poderiam ser considerados como um personagem único. O qual a partir do segundo capítulo, se secciona em dois outros de acordo com a escolha que cada um fez: Josh representando uma infância imutável, e Friedrich o esquecimento absoluto dela. Com ambos pagando o preço por não amadurecerem, ou por terem amadurecido demais. Mas nem de longe é simples assim. Josh e Friedrich são desde sempre opostos. Mesmo quando ainda são crianças, na idílica e pobre Aldeia de Retalhos, eles possuem visões bem diferentes do que é ser uma criança: Friedrich deseja crescer rápido e livrar-se da subjugação ao pai. Enquanto que a Josh, nada interessa mais do que brincar e aproveitar o presente. No primeiro diálogo deles sobre o tronco caído na floresta soturna, a diferença entre essas duas perspectivas fica bem clara, o que demonstra que os dois não são um personagem cindido a partir do capítulo dois. Pois tudo já estava ali, com Josh e sua ingenuidade, às vezes podendo ser ardiloso e cruel como qualquer criança. E Friedrich, que talvez só fosse bondoso porque era fraco.
O grande arco de Josh, o arco central do livro, é a sua busca pelo amigo. Sobre seu apego a um tempo o qual tenta resgatar desparamente enquanto o mundo modifica-se violentamente a sua volta. E por estar amaldiçoado (esta é a palavra certa), Josh nunca tem a consciência do que se oculta em sua busca, por isso não aprende nada com ela. Porém, isso não faz com que acompanhemos um personagem estático, enquanto todos os outros sofrem transformações ao longo da história. Pois Josh não deixa de sofrer os efeitos da sua escolha, não importando o quanto ele não consiga dimensionar as experiências para além de seus eternos nove anos de idade (e que na verdade, por ser franzino, aparenta ter uns sete!). E Josh não é retratado como uma personificação idealizada da infância. Ao contrário, ora ele se mostra esperto e astuto. E ora ingênuo, com decisões oscilando entre o óbvio e a tolice. Como faria qualquer criança, ou qualquer um que ainda não aprendeu a lidar com as situações que o cercam.
O grande arco de Josh, o arco central do livro, é a sua busca pelo amigo. Sobre seu apego a um tempo o qual tenta resgatar desparamente enquanto o mundo modifica-se violentamente a sua volta. E por estar amaldiçoado (esta é a palavra certa), Josh nunca tem a consciência do que se oculta em sua busca, por isso não aprende nada com ela. Porém, isso não faz com que acompanhemos um personagem estático, enquanto todos os outros sofrem transformações ao longo da história. Pois Josh não deixa de sofrer os efeitos da sua escolha, não importando o quanto ele não consiga dimensionar as experiências para além de seus eternos nove anos de idade (e que na verdade, por ser franzino, aparenta ter uns sete!). E Josh não é retratado como uma personificação idealizada da infância. Ao contrário, ora ele se mostra esperto e astuto. E ora ingênuo, com decisões oscilando entre o óbvio e a tolice. Como faria qualquer criança, ou qualquer um que ainda não aprendeu a lidar com as situações que o cercam.
Já Friedrich, (que talvez não tenha recebido esse nome nietzchiniano por acaso), também não é um personagem que representa a fase adulta como um total ato de pragmatismo, sendo frio e objetivo em suas ambições desmedidas. Ele também tem seus erros de cálculos, suas paixões e é guiado pelo medo. E sua principal maldição, assim como Josh, é não ter a capacidade de aprender nada, no caso dele, com o passado. E um exemplo disso, é o arco de Friedrich com o seu próprio filho, o jovem Friedrich, (o qual Josh inicialmente confunde-o com o pai, no capítulo IX: Um grande homem), onde repete com o filho os mesmos erros que seu rigoroso pai teria cometido com ele.
Portanto, o arco deste personagem, traz a distinção que envelhecer, entre outras coisas, não é nem de longe aprender, ou amadurecer.
Já Friedrich, (que talvez não tenha recebido esse nome nietzchiniano por acaso), também não é um personagem que representa a fase adulta como um total ato de pragmatismo, sendo frio e objetivo em suas ambições desmedidas. Ele também tem seus erros de cálculos, suas paixões e é guiado pelo medo. E sua principal maldição, assim como Josh, é não ter a capacidade de aprender nada, no caso dele, com o passado. E um exemplo disso, é o arco de Friedrich com o seu próprio filho, o jovem Friedrich, (o qual Josh inicialmente confunde-o com o pai, no capítulo IX: Um grande homem), onde repete com o filho os mesmos erros que seu rigoroso pai teria cometido com ele.
Portanto, o arco deste personagem, traz a distinção que envelhecer, entre outras coisas, não é nem de longe aprender, ou amadurecer.
Nesta fábula sobre amadurecimento e a passagem inexorável do tempo, somos apresentados a vários personagens infantis. E outros que não são nem uma coisa, nem outra. Aqui vamos ver, com alguns spoilers, um pouco sobre alguns deles:
Nesta fábula sobre amadurecimento e a passagem inexorável do tempo, somos apresentados a vários personagens infantis. E outros que não são nem uma coisa, nem outra. Aqui vamos ver, com alguns spoilers, um pouco sobre alguns deles:
Os irmãos cara-suja:
Quando Josh chega a louca Berlim do final dos anos vinte, ele é repelido e depois acolhido por um trio de irmãos vindos do leste europeu, que foram deixados ali por seus pais em fuga. Esses são: Ivan, Alexei e Dmitri, (referência direta a um dos livros prediletos do autor, Os irmãos Karamazov):
Trecho:
“Nunca saberemos se seus nomes eram de fato esses, mas de qualquer forma, para um trio de irmãos como aquele, com personalidades tão distintas uns dos outros e com um destino tão peculiar, não discordo que sejam apropriados.” Cap. V, Meninos e Ratoeiras.
Os irmãos cara-suja:
Quando Josh chega a louca Berlim do final dos anos vinte, ele é repelido e depois acolhido por um trio de irmãos vindos do leste europeu, que foram deixados ali por seus pais em fuga. Esses são: Ivan, Alexei e Dmitri, (referência direta a um dos livros prediletos do autor, Os irmãos Karamazov):
Trecho:
“Nunca saberemos se seus nomes eram de fato esses, mas de qualquer forma, para um trio de irmãos como aquele, com personalidades tão distintas uns dos outros e com um destino tão peculiar, não discordo que sejam apropriados.” Cap. V, Meninos e Ratoeiras.
Com esses irmãos, Josh formou o quarteto mais esperto que as ruas e becos da Berlim da era do jazz tiveram notícia. Cheios de planos mirabolantes, em uma cidade infestada de crianças perdidas vivendo sob o mundo caótico dos adultos em uma época convulsionante, eles atormentavam pequenos comerciantes, lojistas e quem mais estivesse desavisado.
E juntamente com eles, Josh passa a fazer parte do arco que os leva das ruas até o abrigo para crianças do soturno, mas cuidadoso “diretor com olhos de um mocho”, no capítulo seis. Onde acompanhamos o encapsulamento das crianças em um universo infantil e também hostil. Um lugar inserido, e ao mesmo tempo à parte, em mundo adulto e indiferente.
Neste arco, acompanhando as esperanças de Ivan pelo retorno dos pais, enquanto é desacreditado por Dmitri, vemos as diferenças e dinâmicas que ocorrem entre os irmãos mais velhos e os menores. E as curiosas diferenças de personalidade, mesmo naqueles que são criados de forma próxima e em mesmas condições.
Com esses irmãos, Josh formou o quarteto mais esperto que as ruas e becos da Berlim da era do jazz tiveram notícia. Cheios de planos mirabolantes, em uma cidade infestada de crianças perdidas vivendo sob o mundo caótico dos adultos em uma época convulsionante, eles atormentavam pequenos comerciantes, lojistas e quem mais estivesse desavisado.
E juntamente com eles, Josh passa a fazer parte do arco que os leva das ruas até o abrigo para crianças do soturno, mas cuidadoso “diretor com olhos de um mocho”, no capítulo seis. Onde acompanhamos o encapsulamento das crianças em um universo infantil e também hostil. Um lugar inserido, e ao mesmo tempo à parte, em mundo adulto e indiferente.
Neste arco, acompanhando as esperanças de Ivan pelo retorno dos pais, enquanto é desacreditado por Dmitri, vemos as diferenças e dinâmicas que ocorrem entre os irmãos mais velhos e os menores. E as curiosas diferenças de personalidade, mesmo naqueles que são criados de forma próxima e em mesmas condições.
As crianças especiais do abrigo de Annette:
Assim como acontece no arco com os irmãos, Josh, mais adiante, se vê envolvido em outra situação com crianças abrigadas, no capítulo treze: “Crianças e Guarda-chuvas”, onde conhecemos outras sete crianças (inclusive uma invisível). Mas estas com a peculiaridade de serem crianças especiais, as quais Josh considera terem superpoderes, justamente por isso. E ele nessa altura da história, foi colocado no abrigo de Annette por ser considerado também uma criança especial. Porque afinal não é normal um garoto pular de abrigo em abrigo contando histórias como se tivesse mais de oitenta anos.
Neste arco, sem recorrer a lugares fáceis e simplismos emotivos, o leitor é defrontado com a delicada situação das crianças especiais em situação de abrigo. Ocupando dois capítulos do livro, nele nós acompanhamos Josh e seus novos amigos sob a esmagadora influência que a mídia comercial voltada para o público infantil pode ter. O que vai resultar no plano deles em invadir a mais fabulosa loja de brinquedos que já existiu.
Ao acompanhar esse empolgante e desastroso plano, nós vamos conhecendo mais cada personagem, até chegarmos ao final de arco que é talvez o mais angustiante de todo o livro. Pois nele, o narrador, que prefere lacunas a remendos, nos nega o desfecho que essas crianças tiveram após concluirem o arco com Josh. Afinal, crianças especiais, de certa forma, “desaparecem” ao tornarem-se adultas. Mesmo que continuem a serem crianças. Porém, como alega o narrador no início do capítulo treze, crianças podem ser tão esquecíveis quanto guarda-chuvas.
As crianças especiais do abrigo de Annette:
Assim como acontece no arco com os irmãos, Josh, mais adiante, se vê envolvido em outra situação com crianças abrigadas, no capítulo treze: “Crianças e Guarda-chuvas”, onde conhecemos outras sete crianças (inclusive uma invisível). Mas estas com a peculiaridade de serem crianças especiais, as quais Josh considera terem superpoderes, justamente por isso. E ele nessa altura da história, foi colocado no abrigo de Annette por ser considerado também uma criança especial. Porque afinal não é normal um garoto pular de abrigo em abrigo contando histórias como se tivesse mais de oitenta anos.
Neste arco, sem recorrer a lugares fáceis e simplismos emotivos, o leitor é defrontado com a delicada situação das crianças especiais em situação de abrigo. Ocupando dois capítulos do livro, nele nós acompanhamos Josh e seus novos amigos sob a esmagadora influência que a mídia comercial voltada para o público infantil pode ter. O que vai resultar no plano deles em invadir a mais fabulosa loja de brinquedos que já existiu.
Ao acompanhar esse empolgante e desastroso plano, nós vamos conhecendo mais cada personagem, até chegarmos ao final de arco que é talvez o mais angustiante de todo o livro. Pois nele, o narrador, que prefere lacunas a remendos, nos nega o desfecho que essas crianças tiveram após concluirem o arco com Josh. Afinal, crianças especiais, de certa forma, “desaparecem” ao tornarem-se adultas. Mesmo que continuem a serem crianças. Porém, como alega o narrador no início do capítulo treze, crianças podem ser tão esquecíveis quanto guarda-chuvas.
O menino de brinquedo:
Um dos personagens infantis, que na verdade é um boneco, (um manequim de vitrine que aparece e reaparece durante o enredo), é o outro menino que não cresce na história. Ele surge no capítulo cinco “Meninos e Ratoeiras”, e novamente no capítulo onze “Um menino de brinquedo”, quando Josh deixa o bosque murado e o reencontra em uma Berlim devastada pelos russos. A presença desse personagem na história, com sua impassibilidade servindo às projeções do trio de irmãos e a Josh nos esgotos de Berlim, não resume-se apenas a ser um coadjuvante com esse propósito. A despeito de funcionar como símbolo da infância massificada comercialmente, ele tem seu próprio arco, que nos comove por sua total falta de controle com o que acontece com ele ao longo do tempo. Porque afinal, ele é só um boneco e não pode fazer nada, ou seja, como mais uma criança.
“Crianças não cuidam de crianças”
Outro personagem infantil, mas que nesse caso é um adulto, se trata de Edgard, o único médico que acredita que Josh é um garoto com mais de cem anos, no arco que termina no o desfecho do livro. Esse personagem, criticado pelo bem-sucedido irmão também médico e pelo renomado pai, um cirurgião de crianças, guarda nele as marcas de ter sido uma criança extremamente sonhadora, com dificuldades para amadurecer, mas que teve que fazer isso à força. Só que este personagem não nos é apresentado também como um herói devido a sua ingenuidade. E ele é confrontado pelo pai em um dos trechos mais tocantes da história, sobre a necessidade de nos tornamos adultos. Até porque, crianças não cuidam de crianças. E crianças precisam de adultos amadurecidos, equilibrados e fortes. E Edgard, é um personagem na busca desse equilíbrio. O qual oscilamos durante toda a vida, entre o que já fomos e o que sempre estamos a nos tornar.
O menino de brinquedo:
Um dos personagens infantis, que na verdade é um boneco, (um manequim de vitrine que aparece e reaparece durante o enredo), é o outro menino que não cresce na história. Ele surge no capítulo cinco “Meninos e Ratoeiras”, e novamente no capítulo onze “Um menino de brinquedo”, quando Josh deixa o bosque murado e o reencontra em uma Berlim devastada pelos russos. A presença desse personagem na história, com sua impassibilidade servindo às projeções do trio de irmãos e a Josh nos esgotos de Berlim, não resume-se apenas a ser um coadjuvante com esse propósito. A despeito de funcionar como símbolo da infância massificada comercialmente, ele tem seu próprio arco, que nos comove por sua total falta de controle com o que acontece com ele ao longo do tempo. Porque afinal, ele é só um boneco e não pode fazer nada, ou seja, como mais uma criança.
“Crianças não cuidam de crianças”
Outro personagem infantil, mas que nesse caso é um adulto, se trata de Edgard, o único médico que acredita que Josh é um garoto com mais de cem anos, no arco que termina no o desfecho do livro. Esse personagem, criticado pelo bem-sucedido irmão também médico e pelo renomado pai, um cirurgião de crianças, guarda nele as marcas de ter sido uma criança extremamente sonhadora, com dificuldades para amadurecer, mas que teve que fazer isso à força. Só que este personagem não nos é apresentado também como um herói devido a sua ingenuidade. E ele é confrontado pelo pai em um dos trechos mais tocantes da história, sobre a necessidade de nos tornamos adultos. Até porque, crianças não cuidam de crianças. E crianças precisam de adultos amadurecidos, equilibrados e fortes. E Edgard, é um personagem na busca desse equilíbrio. O qual oscilamos durante toda a vida, entre o que já fomos e o que sempre estamos a nos tornar.
Outro grupo de crianças é encontrado por Josh no entorno de uma estação ferroviária transformada em um hospital de campanha, quando ele está no início de sua procura por Friedrich.
E estas são a garota de boina vermelha, que ao contrário de Josh, não quer encontrar, mas sim ser encontrada pelo avô, que de acordo com um tio, ficou de resgatá-la nos arredores daquela estação. Juntamente com ela, em meio a uma massa de refugiados, está uma dupla de irmãos ranhentos, que passam o dia auxiliando Josh e sua nova amiga nos cuidados com Sven, o soldado renegado, deixado de lado pela guerra após ter sido mutilado em batalha.
E este soldado, em contato com as crianças, se torna outro personagem infantil. E cabe ao encontro dele com as crianças, as nuances de mais contraste entre o universo infantil e o adulto dentro do livro, com as crianças auxiliando Sven em sua cadeira de rodas nas suas fugas a bordéis e trapaças em torno do hospital de campanha.
Em determinado momento, ao longo do livro, o leitor pode suspeitar ter alguma notícia sobre algum desses personagens aqui citados. Mas o narrador nos deixa claro que apesar de que seria mais fácil e desejável criar algum desfecho sobre o destino deles, que ele prefere lacunas a remendos. O que nos deixa com a dúvida se Annette, a cuidadora idosa do abrigo para crianças especiais, seria a garota de boina vermelha. Isto porque, como ele alega, muitas boinas vermelhas foram vendidas desde então. E muitas garotas ficaram à espera de seus avôs em estações de trem em meio a turbas de refugiados para poder se afirmar isso com certeza.
Outro grupo de crianças é encontrado por Josh no entorno de uma estação ferroviária transformada em um hospital de campanha, quando ele está no início de sua procura por Friedrich.
E estas são a garota de boina vermelha, que ao contrário de Josh, não quer encontrar, mas sim ser encontrada pelo avô, que de acordo com um tio, ficou de resgatá-la nos arredores daquela estação. Juntamente com ela, em meio a uma massa de refugiados, está uma dupla de irmãos ranhentos, que passam o dia auxiliando Josh e sua nova amiga nos cuidados com Sven, o soldado renegado, deixado de lado pela guerra após ter sido mutilado em batalha.
E este soldado, em contato com as crianças, se torna outro personagem infantil. E cabe ao encontro dele com as crianças, as nuances de mais contraste entre o universo infantil e o adulto dentro do livro, com as crianças auxiliando Sven em sua cadeira de rodas nas suas fugas a bordéis e trapaças em torno do hospital de campanha.
Em determinado momento, ao longo do livro, o leitor pode suspeitar ter alguma notícia sobre algum desses personagens aqui citados. Mas o narrador nos deixa claro que apesar de que seria mais fácil e desejável criar algum desfecho sobre o destino deles, que ele prefere lacunas a remendos. O que nos deixa com a dúvida se Annette, a cuidadora idosa do abrigo para crianças especiais, seria a garota de boina vermelha. Isto porque, como ele alega, muitas boinas vermelhas foram vendidas desde então. E muitas garotas ficaram à espera de seus avôs em estações de trem em meio a turbas de refugiados para poder se afirmar isso com certeza.
Os personagens adultos em Um conto das maldições do Cervo Invernal são os mais variados possíveis, com as mais variadas certezas e dilemas. Temos os que são absolutamente irresponsáveis, que vivem ao sabor do momento em um tempo à parte, como os integrantes da companhia circense Groof & Hoffmann. Assim como temos o dedicado diretor do abrigo para crianças nos arredores de Berlim, trabalhando sob a ameaça do surgimento do nazifascismo.
Entre os personagens adultos vão se destacar Erich, o soldado de cabelos negros, com quem Josh vai conviver na cidade de trincheiras durante a Primeira Guerra. O arco de Josh com este personagem vai se iniciar na segunda fase do livro, após ele deixar a Aldeia de Retalhos e vai ser finalizado na última parte do enredo. E o nome deste personagem é uma referência ao escritor pacifista Erich Maria Remarch, autor do livro: Nada de novo no front ( Im Westen nichts Neues, – Alemanha 1929), que foi a inspiração para este trecho da história.
Os personagens adultos em Um conto das maldições do Cervo Invernal são os mais variados possíveis, com as mais variadas certezas e dilemas. Temos os que são absolutamente irresponsáveis, que vivem ao sabor do momento em um tempo à parte, como os integrantes da companhia circense Groof & Hoffmann. Assim como temos o dedicado diretor do abrigo para crianças nos arredores de Berlim, trabalhando sob a ameaça do surgimento do nazifascismo.
Entre os personagens adultos vão se destacar Erich, o soldado de cabelos negros, com quem Josh vai conviver na cidade de trincheiras durante a Primeira Guerra. O arco de Josh com este personagem vai se iniciar na segunda fase do livro, após ele deixar a Aldeia de Retalhos e vai ser finalizado na última parte do enredo. E o nome deste personagem é uma referência ao escritor pacifista Erich Maria Remarch, autor do livro: Nada de novo no front ( Im Westen nichts Neues, – Alemanha 1929), que foi a inspiração para este trecho da história.
Mas o personagem adulto com mais relevância e com tantos temas que chega ser difícil resumi-los numa postagem, é Edith, a enfermeira que queria ser atriz e que não gostava de crianças. E a partir desse ponto, os spoilers mais importantes são invitáveis. Então se você não quiser sofrer um spoiler sobre um dos momentos mais sensíveis da história, sugiro que desista da leitura do próximo post.
Mas o personagem adulto com mais relevância e com tantos temas que chega ser difícil resumi-los numa postagem, é Edith, a enfermeira que queria ser atriz e que não gostava de crianças. E a partir desse ponto, os spoilers mais importantes são invitáveis. Então se você não quiser sofrer um spoiler sobre um dos momentos mais sensíveis da história, sugiro que desista da leitura do próximo post.
Dentre todos os arcos de Josh com os outros personagens, o de Edith, a enfermeira que aspirava ser uma atriz e que não queria ter filhos, é um dos mais sensíveis de toda a história, apesar de ser bem difícil escolher um entre tantos. Um dos pontos mais tocantes deste arco é sobre a questão do que sonhamos para nós e o que de fato nos tornamos. E o seu desfecho, também vai tratar da delicada questão de uma maternidade tardia, quando Edith, ao se reencontrar com Josh, cuidará dele até não ter mais forças, no capítulo doze “O filhote de um Cuco”. O tema é sem dúvida difícil. Porém, esta não é uma história infantil. Mas ao serem narrados com humor os percalços que a dupla sofre, isso amortece um pouco a nossa angústia pela percepção de que eles estão a cada parágrafo mais próximos do inevitável, que é a separação definitiva dos dois.
Dentre todos os arcos de Josh com os outros personagens, o de Edith, a enfermeira que aspirava ser uma atriz e que não queria ter filhos, é um dos mais sensíveis de toda a história, apesar de ser bem difícil escolher um entre tantos. Um dos pontos mais tocantes deste arco é sobre a questão do que sonhamos para nós e o que de fato nos tornamos. E o seu desfecho, também vai tratar da delicada questão de uma maternidade tardia, quando Edith, ao se reencontrar com Josh, cuidará dele até não ter mais forças, no capítulo doze “O filhote de um Cuco”. O tema é sem dúvida difícil. Porém, esta não é uma história infantil. Mas ao serem narrados com humor os percalços que a dupla sofre, isso amortece um pouco a nossa angústia pela percepção de que eles estão a cada parágrafo mais próximos do inevitável, que é a separação definitiva dos dois.
Para compreender a dinâmica deste arco, que inicia-se no quarto capítulo e retorna no décimo primeiro, precisamos saber que quando Josh parte em sua busca pelo amigo que foi para guerra a fim de se tornar um grande homem, ele vai em determinado momento encontrar-se junto a um hospital de campanha improvisado em uma estação, no capítulo “Um vagão de bagagens”. Nesse local, ele passa a conviver, junto com outros personagens que darão início a outros arcos, (como Sven e a garota de boina vermelha), com um grupo de enfermeiras. E entre elas está Edith.
E justamente a que mais cativa as crianças perdidas em volta da estação é a que mais quer se afastar delas. Pois talvez, como fica subentendido, a própria Edith não parece ter sido uma criança desejada. Porém, a insistência de Josh faz ela deixar que ele se aproxime. E quando o trem está repentinamente de partida, ela resgata o garoto que está correndo atrás da composição que parte. E mesmo sem saber o porquê deste gesto, Edith permite que Josh se aproxime, e os dois passam a conviver dentro do vagão de bagagens que Edith transformou numa espécie de camarim cheio de quinquilharias, sonhos e lembranças.
Para compreender a dinâmica deste arco, que inicia-se no quarto capítulo e retorna no décimo primeiro, precisamos saber que quando Josh parte em sua busca pelo amigo que foi para guerra a fim de se tornar um grande homem, ele vai em determinado momento encontrar-se junto a um hospital de campanha improvisado em uma estação, no capítulo “Um vagão de bagagens”. Nesse local, ele passa a conviver, junto com outros personagens que darão início a outros arcos, (como Sven e a garota de boina vermelha), com um grupo de enfermeiras. E entre elas está Edith.
E justamente a que mais cativa as crianças perdidas em volta da estação é a que mais quer se afastar delas. Pois talvez, como fica subentendido, a própria Edith não parece ter sido uma criança desejada. Porém, a insistência de Josh faz ela deixar que ele se aproxime. E quando o trem está repentinamente de partida, ela resgata o garoto que está correndo atrás da composição que parte. E mesmo sem saber o porquê deste gesto, Edith permite que Josh se aproxime, e os dois passam a conviver dentro do vagão de bagagens que Edith transformou numa espécie de camarim cheio de quinquilharias, sonhos e lembranças.
A primeira parte deste arco termina com a partida inesperada do vagão de bagagens, levando Edith e seu mundo encantado embora. Sem se despedir de Josh, após sofrer uma decepção amorosa com um médico que era bom em truques baratos como um mágico de aniversários.
Mas os dois vão se reencontrar vinte e sete anos depois, quando numa Berlim destroçada pela invasão russa, uma Edith mais velha e atormentada pela violência infligida pelos soldados soviéticos, se reencontra com Josh no capítulo Um menino de brinquedo, quando graças a estar quase louca, se permite acreditar que aquele garoto faminto como ela, é o mesmo com quem conviveu no hospital de campanha.
A primeira parte deste arco termina com a partida inesperada do vagão de bagagens, levando Edith e seu mundo encantado embora. Sem se despedir de Josh, após sofrer uma decepção amorosa com um médico que era bom em truques baratos como um mágico de aniversários.
Mas os dois vão se reencontrar vinte e sete anos depois, quando numa Berlim destroçada pela invasão russa, uma Edith mais velha e atormentada pela violência infligida pelos soldados soviéticos, se reencontra com Josh no capítulo Um menino de brinquedo, quando graças a estar quase louca, se permite acreditar que aquele garoto faminto como ela, é o mesmo com quem conviveu no hospital de campanha.
À princípio, Josh é quem não a reconhece e tenta fugir. Mas Edith, apesar de fatigada, consegue executar um passo de dança que os dois praticavam no antigo vagão e ele então a reencontra. A partir daí, o narrador vai nos relatando o dia a dia deles. Lógico que com muitas digressões a respeito dos mais variados assuntos, mas que vai nos mostrando, e ao mesmo tempo nos advertindo, da delicada situação desses dois personagens. Os dois passam a viverem juntos como mãe e filho, e durante anos Edith lança mão dos mais variados artifícios para não se separar de Josh: como mudarem de cidade a cada vez que os questionamentos sobre a falta de crescimento dele começam a surgir. Edith vai envelhecendo e com o passar do tempo passa a se tornar mais frágil, o que faz com que os papeis se invertam e é Josh quem passa a cuidar dela. Este arco é sem dúvidas o mais delicado ao tratar de temas como a maternidade tardia. E também sobre a preocupação que tem os responsáveis por aqueles que dependem deles e que não poderão contar com isso por mais tempo. Portanto, terminamos aqui sem dar mais spoilers, e sem tentar reduzir, ou influenciar nas inúmeras reflexões que este trecho pode sugerir.
À princípio, Josh é quem não a reconhece e tenta fugir. Mas Edith, apesar de fatigada, consegue executar um passo de dança que os dois praticavam no antigo vagão e ele então a reencontra. A partir daí, o narrador vai nos relatando o dia a dia deles. Lógico que com muitas digressões a respeito dos mais variados assuntos, mas que vai nos mostrando, e ao mesmo tempo nos advertindo, da delicada situação desses dois personagens. Os dois passam a viverem juntos como mãe e filho, e durante anos Edith lança mão dos mais variados artifícios para não se separar de Josh: como mudarem de cidade a cada vez que os questionamentos sobre a falta de crescimento dele começam a surgir. Edith vai envelhecendo e com o passar do tempo passa a se tornar mais frágil, o que faz com que os papeis se invertam e é Josh quem passa a cuidar dela. Este arco é sem dúvidas o mais delicado ao tratar de temas como a maternidade tardia. E também sobre a preocupação que tem os responsáveis por aqueles que dependem deles e que não poderão contar com isso por mais tempo. Portanto, terminamos aqui sem dar mais spoilers, e sem tentar reduzir, ou influenciar nas inúmeras reflexões que este trecho pode sugerir.
E resumir aqui nessas postagens todos os arcos e personagens deste livro seria uma tarefa inútil e impossível, já que nenhuma sinopse define realmente a experiência que o leitor terá com uma história. O objetivo foi instigar a leitura em relação a alguns pontos, mas que nem de longe podem ser os mais interessantes. Pois há tantos outros personagens e arcos que aqui não foram mencionados. Alguns sendo mais prolongados e outros tão fugazes como alguém que nos acena e desaparece, deixando mesmo assim uma impressão resistente em nossa memória.
E resumir aqui nessas postagens todos os arcos e personagens deste livro seria uma tarefa inútil e impossível, já que nenhuma sinopse define realmente a experiência que o leitor terá com uma história. O objetivo foi instigar a leitura em relação a alguns pontos, mas que nem de longe podem ser os mais interessantes. Pois há tantos outros personagens e arcos que aqui não foram mencionados. Alguns sendo mais prolongados e outros tão fugazes como alguém que nos acena e desaparece, deixando mesmo assim uma impressão resistente em nossa memória.